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terça-feira, 28 de setembro de 2010

A Reforma Educativa e seus impactos na disciplina de Sociologia a nível do ensino secundário em Luanda

Horácio Lembe[1]

Resumo
A natureza deste artigo remete-nos a necessidade de analisar as premissas que estiveram na base da implementação da recente Reforma Educativa em Angola, sem pôr de parte os impactos positivos e negativos que causou à disciplina de Sociologia no ensino secundário, mas propriamente no Subsistema de Ensino Geral. Uma vez que a própria Reforma Educativa, surgiu com o propósito de pôr cobro as incongruências e debilidades do anterior sistema educativo e inová-lo em função da nova realidade que o país vive; então, procurámos averiguar se tais propósitos foram salutares ao ensino da Sociologia.

Palavras-chave:
Reforma Educativa, Sociologia, ensino secundário.



Introdução

Atendendo ao facto de Angola ter implementado recentemente uma reforma no sistema educativo, levou-nos a analisar os factores que estiveram na base da implementação dessa Reforma Educativa, que por sinal, surgiu em substituição de um anterior sistema educativo, que tinha como características: pouco tolerante, menos democrático e com limitações político-cultural e que, por sua vez, apresentava várias debilidades e incongruências. Ademais, procurámos clarear as diferentes transformações sociais, políticas e económicas que Angola tem enfrentado nos últimos anos e que levaram o Ministério da Educação à conceber uma nova estrutura no Sistema de Educação.
Por outro lado, procuramos analisar os impactos positivos e negativos que a Reforma Educativa causou ao ensino da Sociologia, na intenção de averiguar se os propósitos macros que sustentaram a implementação da Reforma Educativa repercutiram-se ao ensino da Sociologia a nível do ensino secundário; realçando assim, as dificuldades que os professores de Sociologia enfrentam no cumprimento das suas actividades laborais.

1. A Reforma Educativa em Angola

            Em nosso entender, ao falarmos em Reforma, dá-nos a ideia de que falámos em remodelação de algo com o objectivo torná-lo mais claro e compreensivo, ou seja, mudar algo velho e substitui-lo por algo novo, desde que seja melhor que o anterior ou ofereça melhores garantias em termos de alternativas. Esta perspectiva conceptual, enquadra-se à Reforma Educativa que Angola implementou recentemente no seu sistema de ensino, graças a um esforço do Ministério da Educação, em adequá-lo aos novos desafios que o país tem vindo a enfrentar nos mais variados sectores da vida social.
            Tendo Angola proclamado a sua independência, aos 11 de Novembro de 1975, constatou-se que 2 anos depois, isto em 1977, o Governo angolano adoptou o Sistema de Educação e Ensino (SEE) e institucionalizou o primeiro organigrama do Ministério da Educação com vista a criar condições para assegurar a implementação do SEE que, segundo Filipe Zau [2009] foi implementado em 1978.
Após 5 anos da implementação efectiva do SEE, isto em 1983, um grupo de especialistas do Ministério da Educação realizou o primeiro diagnóstico sobre as incongruências e debilidades do sistema educativo. Na esteira de Alberto Kapitango Nguluve [2010], este diagnóstico, comprovou “as distorções [que] derivavam os erros de concepção e implementação das mudanças (reformas) que pretendiam conduzir à extinção do Sistema de Ensino Colonial”. Por outro lado, comprovou-se que o sistema educacional implementado em 1978,
“(…) pretendia alcançar em menos tempo [os objectivos preconizados] eram muito ambiciosos, dadas as condições que o país se encontrava, em termos de desenvolvimento econômico, político, social e cultural, sobretudo dos recursos que o Estado destinava ao setor [sic] administrativo e de gestão” [Nguluve 2010: 95-96].

Na perspectiva de Luísa Maria Alves Grilo [2005], o rompimento abrupto do sistema colonial provocou a fuga de quadros e uma primeira Reforma Educativa apressada sem se ter em conta alguns pressupostos metodológicos, trariam consigo consequências graves ao ensino. Até porque “a massificação do ensino não foi acompanhada de investimentos necessários, o que veio a contribuir para a desarticulação dos componentes do sistema colonial” [2005: 98].
Com efeito, “o Conselho de Ministros, através das resoluções  2/83 e 6/83, estimulou um conjunto de medidas para procurar ultrapassar a situação. Mas estas não surtiram efeitos almejados, de modo a satisfazer as preocupações” [Zau 2009: 272], por causa da instabilidade político-social e militar[2] que o país enfrentava na altura.
            Anos depois, realizou-se um segundo diagnóstico, mais focalizado, para identificar as anomalias referentes ao fraco aproveitamento escolar dos estudantes no Ensino de Base Regular. “Em 1986, o MED[3] , com a assessoria de técnicos cubanos, deu início ao diagnóstico endógeno de uma parte do sistema educativo, mais precisamente, ao nível do Ensino de Base Regular” [Zau 2009: 273].
Os resultados do diagnóstico de 1986, “apontava vários aspectos negativos, que se constatavam frequentemente no ensino escolar, concernentes ao fraco aproveitamento escolar dos alunos, nos diferentes níveis de ensino e localidades do país e do pouco preparo dos docentes que actuavam nas escolas” [Nguluve 2010: 95].
            Ademais, o sistema de ensino apresentava outras anomalias, como:
“(…) a distorção da rede escolar, a exiguidade das infra-estruturas escolares, a insuficiente qualidade e quantidade do corpo docente, o deficiente fornecimento de equipamentos, de material escolar e de meios [de] ensino, a débil gestão administrativa e pedagógica das instituições de ensino e a consequente desvalorização da carreira docente” [Grilo 2005: 99].

Ainda no segundo diagnóstico, foi possível identificar mais anomalias referente ao fraco aproveitamento escolar nos diferentes níveis de ensino, a citar: “ Entre 1981 e 1984, 10 000 professores abandonaram o Ministério da Educação, tendo como causas: a situação político-militar, a baixa remuneração salarial e as péssimas condições sociais” [Med 2009: 7]. No que diz respeito ao II e III Nível que faziam parte do Ensino de Base Regular, constatou-se que “o ensino estava nas mãos de docentes estrangeiros, cuja língua de trabalho e preparação profissional era diferente, conforme a sua nacionalidade” [Med 2009: 7]. Sem esquecer o elevado índice de reprovação dos estudantes que estavam no I Nível, “Em cada 1 000 alunos que ingressavam na 1ª Classe, somente 142 concluíam o Iº Nível do Ensino de Base, dos quais 34 transitavam sem repetições de classe, 43 com uma repetição e 64 com duas ou três repetições” [Med 2009: 7].
            Identificados que estavam as incongruências e debilidades do sistema educativo angolano, o Ministério da Educação elaborou um anteprojecto, denominado: Medidas para o Saneamento e Estabilização do actual Sistema de Educação e Ensino e Bases Gerais para um Novo Modelo. Com o objectivo de criar um novo sistema de ensino que se adequasse a realidade do país, cuja sua implementação estava previsto para o período 1988-1991/92. Com efeito,
“(…) o Bureau Político do MPLA-PT, reunido da sua 8ª Secção, estudou, discutiu e avaliou as Bases Gerais para um Novo Modelo de Educação e Ensino e, através da Directiva nº 9/BP/88, recomendou que houvesse um maior aprofundamento e estudos contundentes à implementação de um novo SEE” [Zau 2009: 278].

A assinatura dos Acordos de Paz entre os dois movimentos beligerantes e independentistas, (MPLA e UNITA), proporcionou o surgimento do multipartidarismo[4], houve a necessidade de se “mudar o sistema de ensino que até então estava pautado na visão de partido único (MPLA) para dar lugar a outras perspectivas de tolerância, unidade nacional, inserir princípios de democracia, liberdade política e cultural no sistema educacional” [Nguvule 2010: 97], a fim de corresponder aos novos desafios que a nova realidade exigia.
Tais motivos vieram consolidar a intenção do Ministério da Educação em conceber uma nova estrutura no Sistema de Educação em Angola.
            Partindo do pressuposto de que cada Estado pode, em determinadas circunstâncias da sua história, criar ou inovar o seu Sistema de Educação com o propósito de fazer fincar os seus ideais e reais objectivos, o Governo angolano munido das experiências acumuladas e adquiridas no contexto internacional e baseando-se na sua Lei Constitucional e no seu Plano Nacional de Educação, a Assembleia Nacional aprovou a Lei n.º 13/01, de 31 de Dezembro, referente as Bases do Sistema de Educação.
De acordo com o introito que precede o seu articulado, a aprovação dessa Lei, surge na intenção de se “realizar a escolarização de todas as crianças em idade escolar, reduzir  o analfabetismo de jovens e adultos e aumentar a eficácia do sistema educativo”, a justificação da sua aprovação, cinge-se no facto de se considerar que as mudanças profundas no sistema sócio-económico, nomeadamente a transição da economia de orientação socialista para uma economia de mercado, sugerirem uma adaptação do sistema educativo, com vista a responder as novas exigências de formação de recursos humanos, necessários ao progresso sócio-económico da sociedade angolana” [Diário da República 2001: 1289]

Por conseguinte, a aprovação da Lei n.º 13/01, não é nada mais, senão, a efectivação da reformulação do Sistema de Educação de Angola, com uma nova definição em termos de política e economia educativa, novo âmbito de administração e competência do sector educativo e novos objectivos que visam promover a integração e desenvolvimento do sector educacional, bem como uma nova dinâmica estrutural no sistema educativo.
Com a aprovação desta Lei, o Sistema de Educação é definido como integral, laico, democrático, gratuito[5] e obrigatório[6]. A língua oficial do Sistema de Educação é a portuguesa, abrindo excepção ao Subsistema de Educação de Adultos e na possibilidade de haver expansão e generalização no ensino de Línguas Nacionais.
A organização do Sistema de Educação está estruturado em 6 subsistemas diferentes:
a)    Subsistema de Educação Pré-Escolar;
b)    Subsistema de Ensino Geral;
c)    Subsistema de Ensino Técnico-Profissional;
d)    Subsistema de Formação de Professores;
e)    Subsistema de Educação de Adultos;
f)     Subsistema de Ensino Superior.

Já os níveis de ensino estão subdivididos em 3 diferentes níveis, que são:
a)    Primário;
b)    Secundário;
c)    Superior.

A implementação do Sistema de Educação teve como suporte, o Plano de Implementação Progressiva das Classes com Programas de Ensino do Novo Sistema de Educação[7], que por sua vez, define o regime de transição do anterior ao actual Sistema de Educação, bem como as diferentes fazes da sua implementação[8]. Segundo Alberto Kapitango Nguluve as fases de implementação resumem-se no seguinte:
1º.  Fase de Preparação – 2002/2012, visa adaptar o sistema de administração e gestão do ensino, organização e elaboração de currículos, planos de estudos, programas de ensino e materiais pedagógicos;
2º.  Fase de Experimentação – 2004/2010, consiste na aplicação, a título experimental, dos currículos produzidos;
3º.  Fase de Avaliação e Correção – 2004/2010, consiste na avaliação e correção com base nos dados recolhidos durante a Fase de Experimentação, essencialmente na adequação dos currículos;
4º.  Fase de Generalização – 2006/2011, subsiste na aplicação progressiva dos programas curriculares em todo o país, sequenciando a implementação do novo Sistema de Educação e ao mesmo tempo, extinguindo o anterior sistema;
5º.  Fase de Avaliação Global – 2012/2015, consiste na avaliação global do sistema educacional implementado. A globalidade será assegurada com a abrangência da avaliação dos principais dispositivos do Sistema de Educação e consistirá em analisar os currículos, processo de ensino e aprendizagem, corpo docente e discente, administração e gestão dos recursos materiais [2010: 114-117].

Após a implementação efectiva do actual Sistema de Educação, somos a aflorar que nos encontrámos na fase de Avaliação Global do referido sistema, o que subentende que em função das nossas constatações, todos somos chamados a apresentar as nossas avaliações quer sejam positivas, como negativas do actual Sistema de Educação.      

2. Impactos da Reforma Educativa no ensino da Sociologia

            Tendo em conta a dinâmica inovadora que caracteriza a Reforma Educativa, reconhecemos logo a efectivação de algumas alterações na política educativa de Angola que de certa forma, repercutiram-se nos vários subsistemas de ensino, com impactos positivo e negativo no ensino da Sociologia, isto porque a maneira como a disciplina de Sociologia era leccionada antes da Reforma Educativa, não é exatamente a mesma maneira que se tem leccionado actualmente. Sobre esta questão, Luísa Maria Alves Grilo [2005: 101] narra-nos que outra particularidade do novo Sistema de Educação reside na existência de disciplina de opção, no 2º ciclo do ensino secundário. Assim, para o curso de Artes Visuais os estudantes podem optar pela disciplina de Psicologia ou por Sociologia; para os de Ciências Físicas e Biológicas a opção pode ser: Geometria Descritiva, Sociologia ou Psicologia; Para as Ciências Humanas poderá ser: Antropologia, Psicologia, Desenvolvimento Económico e Social ou Sociologia; para o curso de Ciências Económico-Jurídicas a opção poderá ser: Antropologia, Psicologia ou Sociologia.
            Não fomos bem sucedidos nas várias tentativas feitas de formas a averiguar os motivos que estão na base da concepçâo da disciplina de Sociologia como disciplina de opção, porque em momento ou lugar algum encontrámos motivos convincentes ou suficientemente esclarecedores, sobre o posicionamento opcional que é relegado a disciplina de Sociologia no II ciclo do ensino secundário[9].
Tendo em conta que à nível do ensino secundário a disciplina de Sociologia é leccionada em 3 diferentes subsistemas de ensino, (Subsistema de Ensino Geral, Subsistema de Ensino Técnico-Profissional e Subsistema de Formação de Professores); ao mencionarmos os impactos positivos e negativos que a Reforma Educativa causou ao ensino da Sociologia, limitar-nos-emos apenas no Subsistema de Ensino Geral.
De acordo com Horácio Lembe [2010], os impactos positivos e negativos que a Reforma Educativa causou ao ensino da Sociologia, são:

2.1. Impacto Positivo
a)    A existência de um programa curricular de Sociologia (elaborado pelo INIDE enquanto órgão responsável pela elaboração dos planos curriculares) vem dar sustentabilidade e firmeza a prática de ensino da Sociologia no ensino secundário em Luanda; [Lembe 2010: 26]
b)    Antes da Reforma Educativa a disciplina de Sociologia era leccionada em apenas 1 ano, isto é, na 11ª classe. Com a entrada da Reforma Educativa passou a ser leccionada em 2 anos, a contar da 11ª a 12ª classe; [Lembe 2010: 32]
c)    Comparando o antigo com actual Programa de Sociologia, nota-se que o antigo programa foi dividido, ou seja, repartido em 2 que, ao passar para a Reforma Educativa, actualmente é mais aprofundado e enriquecido em termos de estrutura, possui novos objectivos gerais e específicos, é mais extenso, têm novos temas e subtemas que não constavam no anterior programa; recomenda novos manuais de consulta e a carga horária é mais extensa relativamente ao anterior programa. [Lembe 2010: 27]
2.2. Impacto Negativo
a)    Antes da Reforma Educativa, a disciplina de Sociologia era concebida como uma disciplina obrigatória ou seja, regular. Actualmente é concebida como uma disciplina de opção para todas as áreas de conhecimento, o que significa que estamos diante de uma restrição, porque os estudantes tem de optar se vão estudá-la ou não; [Lembe 2010: 31]
b)     Apesar da disciplina de Sociologia ser concebida como disciplina de opção, nota-se realmente a omissão dos estudantes optarem pela disciplina de Sociologia. Os estudantes não têm tanta liberdade de optar se vão estudar Sociologia em detrimento de Psicologia e vice-versa, por desconfiança que a maioria dos estudantes teriam mais inclinação por uma disciplina do que pela outra, o que possivelmente resultaria na desocupação de alguns professores e consequente encerramento de algumas coordenações. Razão pela qual, algumas escolas decidiram impor as duas disciplinas aos estudantes, subdividindo-os em dois grupos diferentes, onde um, quer queira quer não, tem de estudar Psicologia e o outro tem de estudar Sociologia; [Lembe 2010: 31]
c)    Além da disciplina de Sociologia ser concebida como disciplina de opção para todas as áreas de conhecimento, é digno de nota que, no Subsistema de Ensino Geral é leccionada nos cursos de Ciências Económico-Jurídicas e Ciências Humanas. Quanto ao curso de ciência Físico-Biológica, não é tida nem achada; [Lembe 2010: 31]
d)    O programa curricular de Sociologia elaborado pelo INIDE[10] recomenda o uso de determinada bibliografia, como livros ou manuais adequados para a extração dos conteúdos programados. Em contrapartida, isto dificulta significativamente o trabalho dos professores, porque nem todos têm as mesmas possibilidades de acesso e obtenção dos manuais recomendados. Por esse motivo extraem os conteúdos de qualquer livro de Sociologia que estiver aos seus alcances, mesmo sendo de outras orientações metodológicas e epistemológicas. Para muitos professores, o importante é abordarem as temáticas em questão que ficarem no incumprimento; [Lembe 2010: 32-33]
e)    Antes da Reforma Educativa, não havia manual de apoio referente a disciplina de Sociologia para professores e estudantes. Com a implementação da Reforma Educativa a disciplina de Sociologia continua a enfrentar o mesmo problema, no Subsistema de Ensino Geral e comparando com outras disciplinas, nota-se realmente que se encontra em situação desigual, pelo facto de haver novas disciplinas que foram introduzidas recentemente no Sistema de Educação através da Reforma Educativa e que já possuem manuais de apoio. Sendo assim é notório que, o Ministério da Educação e seus órgãos de subordinação, não tem demonstrado interesse em pôr cobro a essa situação que já se arrasta há algum tempo[11]; [Lembe 2010: 2, 31, 34]
f)     Os professores ao extraírem os seus conteúdos de qualquer manual de Sociologia que estiver aos seus alcances, elaboram fascículos com o objectivo de serem usados como textos de apoio, o que representa um desvio às orientações do Ministério da Educação[12]; [Lembe 2010: 33]
g)    O uso indevido de manuais que não constam no programa curricular de Sociologia elaborado pelo INIDE, é o motivo causador da disparidade de conteúdos e das fontes de investigação que se constata no ensino secundário. [Lembe 2010: 33].

              Em linhas gerais, os principais impactos que a Reforma Educativa causou à disciplina de Sociologia no Subsistema de Ensino Geral.

Considerações finais

Em função das mudanças históricas, sobretudo políticas que Angola começou a enfrentar após a proclamação da sua independência, serviram de premissas motivadoras para que o Estado velasse pela criação de um Ministério da Educação e implementa-se o primeiro sistema educativo para o país que acabava de nascer no contexto das nações. Em função das debilidades e incongruências que o primeiro sistema educativo acarretava, tendo em conta o fraco aproveitamento escolar, o elevado índice de reprovação nas diferentes classes e a posterior reforma política e económica do Estado angolano, serviram de base motivadora para o Ministério da Educação reformar o seu sistema educativo, concebendo uma nova estrutura com vista a corresponder aos novos desafios que o país enfrenta.
A implementação da recente Reforma Educativa é a concretização das políticas educativas adoptadas pelo Estado angolano, no sentido de fortalecer a construção de uma sociedade livre e democrática. Ainda assim, somos a reconhecer algumas ineficácias do actual Sistema de Educação, que tem vindo a dificultar a sua implementação, como: a exiguidade de espaços educativos, equipamentos e materiais escolares e a carência de recursos financeiros. A nosso ver, isso deve-se ao facto de não se ter elaborado um projecto credível com indicadores dos benefícios e custos necessários para a implementação da Reforma Educativa, com a possibilidade de ser monitorado e avaliado por órgãos da sociedade civil, tanto mais que a própria Lei n.º 13/01, não esclarece o financiamento necessário a ser destinado ao sector da educação, nem tão pouco os gastos que a Reforma Educativa poderá acarretar no âmbito da sua implementação em termos de percentagens anuais e total, limitando-se apenas no financiamento proveniente da aprovação do Orçamento Geral do Estado, que de certo modo, não satisfaz os planos de necessidades do Ministério da Educação.
“Contrariamente ao que se esperava, a Fase de Generalização do Novo Sistema de Educação passou a enfrentar inúmeras dificuldades (infra-es-truturas degradadas, turmas superlotadas, profes-sores com baixo nível académico e sem receber formação especializada nos novos materiais pedagógicos, dificuldades de distribuição dos manuais para os alunos e falta de recursos financeiros para o financiamento das escolas primárias, já que o orçamento planificado para o Ministério da Educação entre 2004-2010, foi apenas executado em 55,2 por cento)” [Zau 2011: 33].

Apesar disto, muitos são os analistas que procuram analisar os resultados da Reforma Educativa, limitando-se somente na quantificação de estudantes matriculados e redução da taxa de analfabetismo, numa abordagem explicativa e favorável ao funcionamento institucional da Reforma Educativa, descartando a possibilidade de analisar a qualificação subjacente do ensino perante a Reforma Educativa em uma Angola real. Por causa da cumplicidade de alguns analistas, as principais vítimas deste processo devem ser os denunciadores dos problemas que enfrentam, advertido a sociedade sobre o sentido da educação que temos. Sobre este assunto Paulo Meksenas exorta-nos que:
“(…) Participar mais das entidades profissionais (no caso de professores) ou organizações estudantis (no caso de alunos), denunciando os problemas da educação, é fundamental. Apenas com a organização de todos – a sociedade civil – é possível questionar os governantes e exigir ensino público de qualidade, equipamentos como laboratórios (de ciências, de informática, do ensino de língua estrangeira e outros), bibliotecas e salas de aulas adequadas. Exigir, também, salários dignos aos professores, jornadas de trabalho adequadas e apoio científico-pedagógico às suas atividades [sic]. Todas as questões não serão implantadas por reformas educacionais e, sim, pela organização e luta política de professores, alunos e comunidade escolar.
Assim, professores e alunos não são culpados pelos problemas presentes no ensino formal, são, antes, vítimas da sociedade produtora de desigualdade social e que se reflete [sic] na educação (…) O importante é ver professores e alunos pensarem sobre os limites e as possibilidades na invenção de novos caminhos; quebrarem as posturas autoritárias; dialogarem e criarem novas práticas sociais, capazes de produzir uma escola democrática, que nasce quando somos capazes de exigir do Poder Público o cumprimento do papel que lhe cabe” [2005: 104-105].  

Em suma, a recente Reforma Educativa não trouxe melhorias significativas a disciplina de Sociologia no ensino secundário, porque acarreta consigo mais impactos negativo que positivo, em função das restrições relegadas a disciplina de Sociologia e que prevalece a desigualdade da disciplina quando comparada com outras. Os professores de Sociologia continuam a enfrentar alguns problemas antigos, tais como: a falta de uniformização de manuais de Sociologia que faz com que os professores tenham de elaborar fascículos como remendo desta lacuna que o nosso Sistema de Educação comporta. Em linhas gerais pode-se dizer que, os propósitos macros que sustentam a implementação da Reforma Educativa e as expectativas que visassem aperfeiçoar o ensino da Sociologia no ensino secundário (mormente no que tange a publicação de manuais de Sociologia, realização de fóruns de capacitação para os professores e exigência de quadros formados especificamente em Sociologia para a prática docente em ensino da Sociologia) não foram tão eficazes ao ponto de pôr cobro a questões que apoquentam o ensino da Sociologia no ensino secundário e, sobretudo, no Subsistema de Ensino Geral.

Referências Bibliográficas  

DIÁRIO da República
(31 de Dezembro de 2001), Lei 13/01: De Bases do Sistema de Educação, I Série, n.º 65, Luanda: Imprensa Nacional – U.E.E.

GRILO, Luísa Maria Alves
 2004: “Reforma do Ensino Geral”, Colóquio Sobre o Ensino em Angola, Luanda: Fundação Sagrada Esperança.

LEMBE, Horácio Domingos
 2010: “O Ensino da Sociologia no Ensino Secundário em Luanda: Estudo de Caso da Escola do IIº Ciclo do Ensino Secundário nº 3030-Ingombota (1992-2006)”, Trabalho Apresentado para a Obtenção do Grau de Licenciatura em Ciências da Educação, Opção: Sociologia. Luanda: Instituto Superior de Ciências da Educação.

MEKSENAS, Paulo
 2005: Sociologia da Educação: Introdução ao Estudo da Escola no Processo de Transformação Social, 12ª Edição, São Paulo: Edições Loyola.

MINISTÉRIO da Educação
2009: Informação sobre a Implementação do Novo Sistema de Educação – Reforma Educativa do Ensino Primário e Secundário, Luanda: INIDE.

NGULUVE, Alberto Kapitango
2010: Educação Angolana: Políticas de Reformas do Sistema Educacional, São Paulo: Biscalchin Editor.

VIEIRA, Laurindo
 2007: Angola: A Dimensão Ideológica da Educação, Luanda: Editorial Nzila, Lda.

ZAU, Filipe
2009: Educação em Angola: Novos Trilhos para o Desenvolvimento, Luanda: Movilivros.
2011: “O Percurso da Reforma Educativa em Angola”, Revista Estudos & Opiniões, Semestral JANEIRO/JUNHO 2011. N.º 7


Luanda, Dezembro de 2012.


Title
The Education Reform and its impacts in discipline of Sociology on the secondary school level in Luanda

Abstract
The nature of this article refers us to the need to examine the assumptions that led to the recent implementation of the Education Reform in Angola, by no part of the positive and negative impacts that this has caused to the discipline of Sociology in secondary education, but specifically in Subsystem General Education. Since the Education Reform own, came up with the aim of halting the inconsistencies and weaknesses of the previous education system and innovates it according to the new reality that the country is experiencing, so we tried to ascertain whether such purposes were salutary to the teaching of Sociology.

Key-words:
Education Reform, Sociology, secondary education.



[1] Palestra apresentada na 1ª Jornada Científico-Pedagógica realizada pelo Departamento de Ciências Socias do Instituto Superior de Ciências da Educação de Luanda, aos 13 de Junho de 2013. Sociólogo, licenciado em Ciências da Educação, opção Sociologia pelo Instituto Superior de Ciências da Educação de Luanda, é Chefe de Secção de Base Material de Estudos no Departamento Nacional de Educação Moral e Cívica da Polícia Nacional. Tem como área de investigação a Sociologia da Educação.

[2] Com efeito, a instabilidade político-social e militar provocou a destruição de infra-estruturas escolares, baixa frequência ao ensino, abstenção dos professores e limitações no Orçamento Geral do Estado em suprir as necessidades do sector da educação.
[3] A expressão MED é uma abreviação de Ministério da Educação.
[4] Em função dos Acordos de Bicesse que teve lugar em Portugal, aos 30 de Maio de 1991, assinado pelo Governo de Angola (formado pelo MPLA que governava o país com o sistema mono partidário) e a UNITA (movimento armado de guerrilha que protestava contra o sistema de governação) houve mudança no sistema económico e político do país, dando lugar as primeiras eleições multipartidárias (executiva e legislativa) em Setembro de 1992, e a constituição da 2ª República, uma república multipartidária, com novas ambições e com o objectivo de valorizar a diferença política, a partidária e de opinião, com vista a se construir um país novo, deferente, próspero e harmonioso. Essas mudanças (política, económica e ideológica) repercutiram-se no sistema de ensino, tendo o Estado perdido o monopólio do sistema educacional. [Vieira 2007: 174-175]
[5] O Artigo 7.º nos seus pontos 1. e 2. plasma a gratuidade do ensino em dois diferentes subsistemas, o Geral e o de Educação de Adultos [Diário da República 2001: 1290].
[6] Em conformidade com o Artigo 8.º, “O ensino primário é obrigatório para todos os indiví-duos que frequentam o subsistema do ensino geral” [Diário da República 2001: 1290].
[7] Aprovada a luz do Decreto nº 2/05, de 14 de Janeiro.
[8] O Plano de Implementação Progressiva do Novo Sistema de Educação não contempla actividades para o ensino superior, senão ao primário e secundário.  
[9] Apesar do parecer favorável da direcção do INIDE a autorizar a pesquisa e orientar os funcionários no sentido de facilitar a colheita de dados, infelizmente os funcionários da Secção de Sociologia e do Centro de Documentação e Informação em nenhum momento apresentaram-se disponíveis para o efeito.
[10] Acrónimo de Instituto Nacional para Investigação de Desenvolvimento da Educação.
[11] Como exemplo temos a disciplina de Desenvolvimento Económico-Social e a disciplina de Literatura, introduzidas recentemente no ensino secundário.
[12] Em conformidade com o Artigo 60º da Lei de Bases do Sistema de Educação "Os planos de estudo e programas de ensino tem um carácter nacional e de cumprimento obrigatório, sendo promovido pelo Ministério da Educação e Cultura" [Diário da República 2001: 1297]. Portanto, a Reforma Educativa exige obrigatoriedade de cumprimento escrupuloso aos Planos e Programas de ensino, pelo que se sabe até agora, não existe nenhuma orientação que legitima a elaboração de fascículos por parte dos professores.

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