Horácio
Lembe[1]
Resumo
Palavras-chave
Estudo de avaliação,
Sociologia Policial, ano lectivo 2013.
Introdução
Tendo-se implementado a
disciplina de Sociologia Policial na grelha curricular do curso de licenciatura
em Ciências Policiais e Criminais com o propósito de fortalecer os níveis de
conhecimentos teóricos e práticos dos formandos sobre as dinâmicas das
sociedades actuais, os contornos e desenvolturas das relações interpessoais e
institucionais no contexto polícia e sociedade. Tal acto despertou-nos a
pretensão em estudar o contraste desta dinâmica no seio dos cadetes.
A pesquisa em questão baseia-se
nas respostas a um inquérito por questionário a propósito aplicado aos cadetes
que frequentam o III ano do curso acima referenciado, quer na especialidade de Segurança
Pública, bem como na de Investigação Criminal. É nosso objectivo analisar a
avaliação que os cadetes fazem a disciplina de Sociologia Policial.
A pertinência deste estudo
reside no facto de a disciplina de Sociologia Policial ser nova no contexto das
Bases do Sistema de Educação em Angola (Lei
n.º 13/01 de 31 de Dezembro), em que o ISCPC é a primeira instituição de
ensino a tornar factível este desiderato e que os cadetes que frequentam o III
ano terem sido os primeiros beneficiários desta inovação. Por essa razão, achámos
por bem submeter à apreciação dos mesmos a crítica da disciplina.
Importa referir que os
estudos de avaliação não são novos no mundo da cientificidade e, muitas vezes,
são empregues para diagnosticar o desempenho de uma determinada empresa, ou de determinadas
marcas e produtos. Também são usados para fazer sondagens sobre as expectativas
populares, intenções de voto; grau de aceitação de reformas, de campanhas de vacinação,
entre outras.
Erigimos duas hipóteses de
relação e direcção por forma a “estabelecer uma relação directa entre dois
conceitos quando estes aumentam ou diminuem de tamanho conjuntamente”
[Silvestre 2012: 74], primeira: quanto mais pragmáticos forem os temas da
Sociologia Policial maior interesse desperta aos cadetes; segunda: o elevado
nível de importância da Sociologia Policial reside na utilidade que a mesma tem
na vida prática.
Para obtenção dos dados pretendidos,
socorremo-nos ao método de investigação quantitativa, sem pôr de parte a
técnica de inquérito por questionário auto-administrado que nos permitiu inferir
a opinião dos cadetes sobre a disciplina de Sociologia Policial.
1. Estudo de avaliação
O estudo de avaliação
enquadra-se na categoria de planos mistos ou pluri-metodológicos, englobando
métodos quantitativos e qualitativos. É mais uma das modalidades de
investigação em Ciências Sociais e Humanas que visa avaliar programas, métodos
e produtos inovadores com recurso a metodologias variadas e aferir a qualidade
das mesmas para orientar a acção futura.
Segundo Carol Weiss:
“A
avaliação aplica todas as metodologias da investigação social. Os princípios e
métodos que são válidos para outro tipo de investigação, são válidos aqui
também. Tudo que sabemos acerca de desenho, medida e análise entra em jogo para
planear e levar a cabo um plano de avaliação. O que distingue a investigação
avaliativa não é o método ou a matéria de estudo mas o objecto ou finalidade
que a motivam: uma tomada de decisão” [1975: 18 apud Coutinho 2011: 319-320].
O estudo de avaliação é
comum no âmbito das Ciências da Educação, uma vez que as reformas no sector
educativo têm sido uma constante no mundo moderno, e, a aplicação deste tipo de
estudo visa melhorar não somente o processo educativo nas suas diferentes fases
de implementação (preparação, experimentação, correcção e avaliação global),
como também o impacto das inovações pedagógicas (métodos e estratégias de
ensino, estruturação das grelhas curriculares e materiais de ensino).
“O que individualiza os estudos de avaliação não é o
facto de serem um tipo particular de plano de investigação mas uma modalidade
de pesquisa que pode ser aplicada a campos como a educação, a saúde ou a
sociedade com o objectivo de tecer juízos de valor e/ou tomar decisões sobre a
continuidade de estratégias implementadas” [Coutinho 2011: 321]
As principais
características de um estudo de avaliação na visão de Clara Pereira Coutinho [2011:
321] são:
- Modalidade de investigação aplicada, que se destina ao uso por oposição à investigação fundamental ou básica preocupada com aumentar o corpo dos conhecimentos existentes;
- Comparar o que é com o que deveria ser, ou seja, os resultados obtidos com os objectivos/metas definidas à partida;
- Visar a fundamentação de uma tomada de decisão acerca do que avalia: aprovar, rejeitar, modificar.
Um estudo de avaliação
apresenta as seguintes vantagens: aborda problemas práticos, culmina na acção,
faz juízo de mérito e valor, resolve problemas particulares sem buscar
generalizações; não é disciplinar, o investigador participa em todo o processo
de avaliação [Coutinho 2011: 321].
1.1.
Método
quantitativo
Tendo em conta o tema, o
objectivo, as hipóteses da pesquisa, os recursos humanos e financeiros e o
tempo disponível, fizemos o uso do método de investigação quantitativa, que tem
como objectivo a identificação e apresentação de dados e indicadores
observáveis. “Na investigação quantitativa, o investigador procura medir os
fenómenos, lidando fundamentalmente com conceitos e variáveis (…). O
investigador parte de uma construção teórica e de conceitos para desenvolver
medidas que lhe permitam a observação empírica” [Silvestre 2012: 74], ou seja,
o processo inicia-se com os conceitos e termina-se com indicadores específicos
e concretos.
1.1.1. Inquérito por questionário
auto-administrado
De
formas a procedermos com eficácia à recolha de dados, utilizámos a técnica de
inquérito por questionário auto-administrado. O inquérito por questionário é
uma técnica de pesquisa pertencente ao método quantitativo “formado por um
conjunto estruturado de perguntas, previamente definidas na sua ordem e
conteúdo e inscritas num formulário (…) e que pretende obter dados com menos
profundidade” [Silvestre 2012: 159] do que obteria com recurso à entrevista, de
forma extensiva, permitindo abranger um número significativo de sujeitos
distribuídos num espaço geográfico grande e/ou disperso e que sejam passíveis
de serem comparados.
As vantagens do inquérito
por questionário auto-administrado residem, primeiro, no facto de este ser aplicado
na presença do inquiridor, que entrega e recolhe os inquéritos e faz supervisão
do preenchimento; segundo, o sujeito pode responder ao seu ritmo e pode
responder em condições de privacidade, permitindo-lhe assim, maior abertura
para responder às questões de natureza sensível; terceiro, decorre numa
sensação de maior confiança em relação à garantia de anonimato; quarto, está
ligado ao facto de o sujeito poder responder ao inquérito num ambiente familiar
e que entende como mais confortável [Silvestre 2012: 161].
1.2.
Ficha
técnica dos inquiridos
No presente estudo, inerente
à avaliação sobre a disciplina de Sociologia Policial, chamamos atenção para o
facto de não falarmos de pessoas, mas da disciplina de Sociologia Policial
leccionada no ISCPC. Em momento algum falou-se (e falar-se-á) em professores de
Sociologia Policial.
Queremos também chamar
atenção para o facto de os resultados aqui apresentados não serem generalizados
para os cadetes do ISCPC, ou para os cadetes que frequentam o III ano.
Partindo do princípio que
“(…) investigar não é fazer com que os dados recolhidos vão ao encontro das
expectativas iniciais do investigador, mas sim, relatar os dados resultantes da
investigação”[2],
então, os dados que se apresentam dizem respeito unicamente ao grupo de inquiridos,
constituindo a sua opinião global, ou seja, ao invés de o autor do estudo
apresentar aqui a sua própria opinião, preferiu apresentar opiniões avaliativas
e abrangentes dos 52 cadetes que aceitaram emiti-las, a quem, desde já,
endereçamos o nosso agradecimento.
O número de cadetes
contactados foi de 60, dos quais 6 inquéritos foram invalidados por terem sido
mal preenchidos, 2 foram extraviados no momento em que aplicávamos o inquérito,
ficando assim 52 válidos, preenchidos de acordo com as explicações dadas a priori.
Os inquéritos foram
aplicados na quinta-feira, 5 de Junho de 2014, período da tarde, nas salas 1 e
2 do ISCPC. Há que ter em atenção que não trabalhámos somente com os cadetes
que estudam nas referidas salas, pelo contrário, as salas 1 e 2 constituem os
espaços geográficos disponibilizados para o efeito.
O inquérito decorreu de
forma amena, teve a duração de 15 minutos. Os inquiridos reagiram de forma
positiva e manifestaram-se bastante interessados.
Os cadetes inquiridos são
todos de nacionalidade angolana e estudantes do III ano no ISCPC, frequentam o
curso de licenciatura em Ciências Policiais e Criminais (a especialidade de
Segurança Pública com 65,4% e a especialidade de Investigação Criminal com 34,6%).
A margem de resposta dos cadetes contactados é de 86,6%. Os inquiridos são
maioritariamente do sexo masculino (84,6% contra 15,4% do sexo feminino) e têm
idades compreendidas entre 23 e 32 anos (média da idade é de 26,2 anos, mediana
e moda 26 anos com desaseis frequências registadas). No que diz respeito aos
postos e distintivos da Polícia Nacional (hierarquia), averiguou-se que 96,1%
pertencem à classe de Agentes e 3,9% à classe de Subchefes.
2. Avaliação sobre a disciplina de
Sociologia Policial
De forma a caracterizar a
avaliação que os cadetes do ISCPC fazem à disciplina de Sociologia Policial,
impera-nos evidenciar que as representações gráficas que se seguem e em formato
de diagramas circulares em sectores[3], foram criadas tendo em
conta as respostas dos inquiridos.
2.1.
Estudo da Sociologia antes de os cadetes ingressarem no ISCPC
Considerando
a preocupação que os cadetes apresentaram no início das aulas por terem de
enfrentar mais um desafio académico, o de estudar a disciplina de Sociologia
Policial, numa altura em que alguns se manifestaram surpresos por nunca terem
estudado Sociologia noutros níveis de ensino, portanto, achámos pertinente
começar o estudo de avaliação apresentando estatisticamente dados fiáveis sobre
o número de inquiridos que já haviam estudado Sociologia noutros níveis antes
de ingressarem no ISCPC e que, se calhar, se familiarizam mais facilmente com
os conteúdos ministrados.
O
gráfico 1 demonstra que metade dos inquiridos (50%) estudou Sociologia noutros
níveis de ensino antes de ingressar no ISCPC, ao passo que outra metade estudou
pela primeira vez, constituindo novidade no perfil de formação dos mesmos.
Portanto, compreendemos o porquê de muitos cadetes ficarem inquietos e curiosos
quando nos apresentámos pela primeira vez à sala de aula – numa altura em que
não haviam ainda recebido o programa da disciplina e nem sequer tinham noção
dos temas a serem ministrados no decorrer do semestre. O sexo ajuda-nos a
diferenciar melhor o estudo da Sociologia antes de os inquiridos ingressarem no
ISCPC: 44,2% dos homens já estudaram Sociologia em outros níveis contra 40,4%
que estudaram pela primeira vez. Já no seio das mulheres 9,6% estudaram pela
primeira vez contra 5,8% que estudaram em outros níveis de ensino.
Gráfico
1 – Inquiridos segundo o estudo da Sociologia antes de ingressarem no ISCPC
Fonte: Inquérito por questionário auto-administrado, por 52
pessoas
No seio do grupo dos
inquiridos que tiveram a oportunidade de estudar Sociologia noutros níveis de
ensino, um facto pertinente revelado no gráfico 2 chama-nos atenção, antes de
os inquiridos ingressarem no ISCPC a fim de frequentar o curso de licenciatura de
Ciências Policiais e Criminais, 33% dos mesmos já haviam estudado Sociologia no
ensino secundário contra 17% que
haviam estudado no ensino superior
quando se encontravam a fazer outras formações alheias às feitas no ISCPC.
Conforme já mencionámos no Gráfico anterior, outra metade (50%) estudou pela
primeira vez na instituição em questão.
Gráfico
2 – Inquiridos segundo os níveis de ensino em que estudaram Sociologia
Fonte: Inquérito por questionário auto-administrado, por 52
pessoas
A
primeira vista, esses dados nos demonstram a necessidade de se implementar a
disciplina de Sociologia Geral na grelha curricular do curso pelo elevado
número de cadetes que estudaram Sociologia pela primeira vez e somente no
ISCPC, convindo a fortalecer não só os níveis de conhecimento destes, mas para
melhor perceberem algumas complexidades técnicas não só de âmbito específico,
como também geral.
2.2.
Receptividade da disciplina de Sociologia Policial
Independentemente
de metade dos cadetes terem sido privilegiados noutros níveis de ensino em que
tiveram a oportunidade de estudar Sociologia antes de ingressarem no ISCPC,
interessou-nos apurar os níveis de recepção que os mesmos tiveram face à
disciplina de Sociologia Policial, por se tratar de uma inovação na instituição.
O gráfico 3 demonstra claramente que em termos
de receptividade, os inquiridos declararam que gostam da disciplina de Sociologia Policial, mesmo havendo a
possibilidade de alguns se absterem de responder à questão formulada, unanimemente
declararam que gostam, subjectivamente aprovaram de bom grado a sua
implementação na grelha curricular do curso. Sendo esta avaliação bastante
positiva (e até certo ponto inesperada), procurámos também averiguar os níveis
de avaliação sobre a disciplina em questão por parte destes.
Gráfico
3 – Inquiridos segundo o gosto que manifestaram pela disciplina de Sociologia
Policial
Fonte: Inquérito por questionário auto-administrado, por 52
pessoas
Para
possibilitar a análise dos resultados obtidos nas respostas sobre a forma como
os inquiridos avaliam a disciplina de Sociologia Policial administrada durante
o ano lectivo 2013, foi construído um índice de avaliação com os seguintes
valores:
¾ Valor
«+2» - avaliação excelente;
¾ Valor
«+1» - avaliação boa;
¾ Valor
«0» - avaliação razoável;
¾ Valor
«-1» - avaliação má;
¾ Valor
«-2» - avaliação péssima.
Considerando os 54% dos
inquiridos que avaliam de forma excelente
a disciplina de Sociologia Policial (não perdendo de vista o gosto que os
mesmos manifestaram no gráfico anterior); o gráfico 4 demonstra-nos que a
avaliação a seguir, corresponde a 38% que avaliam como boa, 8% razoável, porém,
não se registou nenhuma avaliação aos níveis de má, péssima ou sem opinião.
Gráfico
4 – Inquiridos segundo à avaliação da disciplina de Sociologia Policial
Fonte: Inquérito por questionário auto-administrado, por 52
pessoas
Além da avaliação que os
inquiridos fazem à disciplina de Sociologia Policial, na questão a seguir,
procurámos ser mais específicos e contundentes no sentido de ter uma visão
geral sobre o nível de importância que os mesmos a atribuem a disciplina em
questão. Neste caso, foi possível constatar (gráfico 5) que mais de ¾ dos
inquiridos (79%) classificam a disciplina de Sociologia Policial com bastante importância, seguido de 17% que
classificam com importância, 4% relativa importância, no entanto, não se
registou nenhuma classificação aos níveis de pouca importância, sem
importância ou sem opinião.
Gráfico
5 – Inquiridos segundo o nível de importância atribuída a disciplina de
Sociologia Policial
Fonte: Inquérito por questionário auto-administrado, por 52
pessoas
De um modo geral,
constata-se que durante o tempo lectivo, os inquiridos puderam fazer uma
avaliação crítica aos conteúdos ministrados nas aulas e estabelecer a simbiose
entre os conhecimentos teóricos e a utilidade prática à luz da nossa realidade
socioeconómica e cultural. A esse respeito, constata-se no gráfico 6 que 100%
dos inquiridos declararam que a disciplina de Sociologia Policial tem utilidade
na vida prática. Importa lembrar que, esta unanimidade não se reflecte somente
na disciplina em si como também num conjunto de elementos que o formaliza:
implementação da disciplina, estruturação do programa curricular, adequação às
necessidades temporais, axiologia e praxis dos temas ministrados.
Gráfico
6 – Inquiridos segundo a utilidade que a disciplina de Sociologia Policial tem
na vida prática
Fonte: Inquérito por questionário auto-administrado, por 52
pessoas
2.3.
Temas de Sociologia Policial e seus desafios
Ciente
dos desafios académicos que a disciplina de Sociologia Policial remete ao
contexto angolano, sobretudo, pela necessidade em se estabelecer dinâmicas
construtivistas e necessárias aos novos tempos, definir prioridades
investigativas e tendências de racionalidade endógena a fim de se criar rupturas
epistemológicas à prováveis dogmas de imutabilidade e trazer a discussão novas
tendências paradigmáticas, neste ponto, procuramos avaliar a apreciação crítica
dos cadetes relativamente aos temas de Sociologia Policial e prover possíveis desafios
que visam fortalecer o ensino da mesma.
O gráfico 7 ilustra a forma
como os inquiridos classificam os temas de Sociologia Policial administrados
durante o ano 2013, especificamente a este assunto: 48% dos respondentes
classificam como bastante pragmáticos,
seguindo-se 46% com relativamente pragmáticos,
6% com pouco pragmáticos, ao passo
que as variáveis não pragmáticos e sem opinião não registaram nenhum tipo
de observação.
Gráfico
7 – Inquiridos segundo a classificação dos temas de Sociologia Policial
Fonte: Inquérito por questionário auto-administrado, por 52
pessoas
O gráfico 8 apresenta-nos o
número relativo total dos temas que na perspectiva dos inquiridos deveriam ser
mais estudados tendo em conta o actual momento que se vive no contexto
angolano. Nota-se aí que, com mais de ¼ do total de menções, temos o tema desvios comportamentais (33%), logo
seguido pelos temas prevenção e resolução
de conflitos, com apenas um quarto do total de menções (25%) e violência nas sociedades actuais com
21%.
Os demais temas encontram-se
a grande distância desses três. Também em relação ao número de menções, surgem
numa segunda linha, designadamente: políticas
públicas de segurança com 9%, geografias
da criminalidade com 6%, criminalidade
e comunicação social com 4%, direitos
humanos e democracia com 2%. Já o tema Estado
angolano e pluralismo jurídico não
registou sequer qualquer menção acerca.
Gráfico
8 – Inquiridos segundo os temas de Sociologia Policial que deveriam ser mais
estudados tendo em conta a realidade nacional
Fonte: Inquérito por questionário auto-administrado, por 52
pessoas
Considerando o elevado número de inquiridos
que nunca tinham estudado Sociologia antes de ingressarem no ISCPC (conforme
ilustram os gráficos 1 e 2), nessa pesquisa, questionámos sobre a necessidade
de se implementar a disciplina de Sociologia Geral antes da Sociologia Policial
(como disciplina de precedência), visto que metade destes (50%) nunca tinha
estudado Sociologia noutros níveis de ensino e consequentemente, depararam-se
logo com a Sociologia Policial que é específica, antes ou sem ter estudado
Sociologia Geral à luz das precedências lógicas da construção do “conhecimento
científico”[4].
Tal como se verifica no
gráfico 9, mais de ¾ (83%) dos respondentes são contra 17% que defendem que não há necessidade de se implementar a
disciplina de Sociologia Geral antes da de Sociologia Policial, no entanto,
nenhum inquirido se absteve de responder à questão acima formulada.
Gráfico
9 – Inquiridos segundo a necessidade de se implementar a disciplina de
Sociologia Geral antes da de Sociologia Policial
Fonte: Inquérito por questionário auto-administrado, por 52
pessoas
Tendo
em atenção que o curso de licenciatura em Ciências Policiais e Criminais
ramifica-se em duas especialidades distintas a partir do III ano (Segurança
Pública e Investigação Criminal) e atendendo ao facto de a estruturação do
programa de Sociologia Policial aglutinar não só os temas específicos como também
os da Sociologia Criminal, então, indagámos aos inquiridos sobre a necessidade
de se discernir os temas em questão na intenção de se implementar, futuramente,
a disciplina de Sociologia Criminal, porque ambas possuem diferentes objectos,
métodos e teorias de estudo.
Relativamente ao assunto
acima exposto e em conformidade com o gráfico 10, 77% dos inquiridos defendem a
necessidade de os discernir, 23% discorda, contudo, 2% dos inquiridos abstêm-se
em participar da discussão sobre esta possibilidade.
Gráfico
10 – Inquiridos segundo a necessidade de se discernir a disciplina de
Sociologia Policial da Sociologia Criminal
Fonte: Inquérito por questionário auto-administrado, por 52
pessoas
3. Considerações finais
O
estudo de avaliação é uma modalidade de investigação contínua e adequada para
se estudar o processo de implementação ou o impacto de inovações pedagógicas
como: métodos, estratégias de ensino e aprendizagem, matérias curriculares ou
novos programas disciplinares com vista a resolver problemas práticos e particulares
sem buscar generalizações.
A
necessidade de aferir não só o mérito de um determinado produto como também a
de identificar insuficiências que retiram a sua qualidade ou impossibilitam a
plena satisfação dos sujeitos envolvidos motivaram-nos a avaliar o desempenho
da disciplina de Sociologia Policial ao longo do ano lectivo de 2013. As ideias
inerentes à concepção do presente estudo de avaliação foram concebidas na
segunda quinzena de Maio de 2014. Foram inquiridos os cadetes que frequentam o
III ano nas especialidades de Segurança Pública e Investigação Criminal
(pertencentes ao curso de licenciatura em Ciências Policiais e Criminais) com a
idade a partir dos 23 anos, tendo o número de inquérito sido fixados em 60, logo,
a margem de resposta obtida corresponde a 86,6%.
Uma
das conclusões a que a pesquisa nos permitiu chegar dá conta que o elevado
nível de importância atribuída à disciplina de Sociologia Policial reside na
utilidade que a mesma tem na vida prática dos cadetes. Porque ao
diagnosticarmos a receptividade da disciplina no seio dos cadetes, constatámos
que unanimemente (100%) gostam da disciplina e vêem nela utilidade prática
(articulada entre o conhecimento teórico e a realidade nela subjacente). Neste
âmbito ainda, os cadetes avaliam a disciplina da seguinte forma: 54%
consideram-na excelente, 38% boa e 8% razoável, sobre o nível de importância 79% avaliam-na como
disciplina de bastante importância,
17% com importância e 4% com relativa importância. Este quadro analítico
demonstra que a apreciação dos cadetes quanto a implementação da disciplina de
Sociologia Policial na grelha curricular do curso é aplaudida de forma
positiva.
Uma
outra conclusão pertinente dá conta que quanto mais pragmáticos forem os temas
da Sociologia Policial maior interesse desperta aos cadetes, porque dos temas
administrados durante o ano lectivo transacto averiguou-se que: desvios comportamentais (33%), prevenção e resolução de conflito (25%) e violência nas sociedades actuais (21%) são os temas que maior interesse
despertaram aos cadetes e que os mesmos acham que devem ainda ser mais
aprofundados, considerando a actual realidade socioeconómica e cultural que se
vive no país.
Em segundo lugar, surgem
outros temas como: políticas públicas de
segurança (9%), geografias da
criminalidade (6%), criminalidade e
comunicação social (4%) e direitos
humanos e democracia com 2%.
Tendo em conta o pragmatismo
que os mesmos atribuem aos temas já transmitidos, dá-se conta que 48% dos temas
são avaliados como: bastante pragmáticos,
46% relativamente pragmáticos e 6% pouco pragmáticos. Esta relação de
conceitos entre os temas de maior interesse e o tipo de avaliação fornecem-nos
novos horizontes sobre estudos a serem desenvolvidos futuramente, no âmbito da
Sociologia Policial e relacionados ao caso angolano propriamente dito.
O facto de 50% dos
inquiridos ter estudado pela primeira vez a disciplina de Sociologia Policial
sem antes estudar a Sociologia Geral chama-nos atenção para a necessidade de se
colmatar esta lacuna que, de certo modo, além de rechear o perfil de formação
dos mesmos, também irá fornecer outras ferramentas que melhor ajudam a compreender
as dinâmicas estruturais das sociedades e a descortinar fenómenos comportamentais
complexos.
Como vimos, mais de ¾ dos
inquiridos (83%) são a favor da implementação da disciplina de Sociologia
Geral, ou seja, quer os 50% que estudaram pela primeira vez como a maioria dos
que já haviam estudado noutros níveis de ensino são a favor desta
implementação, subtraindo apenas 17% que não vêem tal necessidade. Além disto,
75% julgam necessário discernir os temas da Sociologia Policial com os da
Sociologia Criminal pelo facto de o curso de licenciatura em Ciências Policiais
e Criminais ramificar-se nestas duas vertentes e que sociologicamente
constituem diferentes objectos de estudo.
Feita
a análise sobre a avaliação que os cadetes fazem à disciplina de Sociologia
Policial somos de opinião que estudos desta natureza não terminem por aqui,
para que possamos, futuramente, fazer estudos comparativos de dois ou três anos
lectivos subsequentes a fim de balancear as estratégias implementadas.
Referências
bibliográficas
COUTINHO, Clara Pereira (2011); Metodologia para Investigação em Ciências
Sociais e Humanas: teoria e prática, Coimbra: Edições Almedina, S. A.
DIÁRIO da República (31 de Dezembro de 2001);
Lei n.º 13/01: De Bases do Sistema de Educação, I Série, n.º 65, Luanda:
Imprensa Nacional – U.E.E.
SILVESTRE, Hugo Consciência (Coord) (2012); Metodologia para Investigação Social,
Lisboa: Escolar Editora.
Luanda, Junho de 2014.
INQUÉRITO POR QUESTIONÁRIO
Objectivo: Avaliar a estado de opinião
dos cadetes sobre a disciplina de Sociologia Policial;
Grupo
alvo:
Cadetes que frequentam o IIIº ano no ISCPC/PN.
|
1. Sexo:
Masculino
|
2.
Idade:
__________________________________
3.
Nacionalidade:___________________________
4.
Que curso
frequenta: _________________________
5. Classe policial que se enquadra:
Classe de Agentes
Classe
de Of. Subalternos
|
Classe
de Of. Superiores
|
6.
Já alguma vez
estudou Sociologia em outros níveis de ensino?
Sim,
já estudei
|
Nunca
estudei
|
É
a primeira vez
|
6.1.
Se
respondeu “Sim, já estudei” na questão 6, a que nível se refere? Se respondeu
“Nunca estudei” ou “É a primeira vez” na questão 6, então responda “Sem
opinião”
Secundário
|
Superior
|
Sem
opinião
|
7.
Gostou
de ter estudado a disciplina de Sociologia Policial?
Sim,
gostei
|
Não
gostei
|
Sem
opinião
|
8.
Que
avaliação faz da disciplina de Sociologia Policial?
Excelente
Boa
Razoável
Má
Péssima
9.
Em
que nível de importância enquadras a disciplina de Sociologia Policial?
|
Bastante
importância
|
Com
importância
|
Ralativa importância
|
Pouca
importância
|
Sem
importância
|
Sem
opinião
|
10.
Achas que a
disciplina de Sociologia Policial tem utilidade na vida prática?
Sim,
tem utilidade
|
Não
tem utilidade
|
Sem
opinião
|
11.
A disciplina de
Sociologia Policial é leccionada a luz da realidade socioeconómica e cultural
de Angola?
Sim
|
Parcialmente
|
Não
|
Sem
opinião
|
12. Como classificas os temas da
Sociologia Policial?
Bastante
pragmáticos
|
Relativamente
pragmáticos
|
Pouco
pragmáticos
|
Não
pragmáticos
|
Sem
opinião
|
13. Quais os temas da Sociologia
Policial que deveriam ser mais estudados tendo em conta a realidade nacional?
Desvios comportamentais
|
Violência nas sociedades actuais
|
Políticas públicas de segurança
|
Prevenção e resolução de conflitos
|
Criminalidade e comunicação social
|
Direitos Humanos e democracia
|
Pluralismo jurídico e Estado de
Direito
|
Geografias da criminalidade
|
14.
Há
ou não a necessidade de se implementar a disciplina de Sociologia Geral antes
da de Sociologia Policial?
Há,
sim
|
Sem
opinião
|
15.
Há
ou não a necessidade de discernir a disciplina de Sociologia Policial da
Sociologia Criminal?
Há,
sim
|
Não
há necessidade
|
Sem
opinião
|
[1] Sociólogo, licenciado em ensino da Sociologia
pelo Instituto Superior de Ciências da
Educação de Luanda, pós-graduando em Investigação e Intervenção Social pela
Faculdade de Ciências Sociais da
Universidade Agostinho Neto. Tem como área de investigação a
Sociologia da Educação.
[2] SOUSA, Maria José & Cristina Sales BAPTISTA (2011); Como fazer investigações, dissertações, teses e relatórios, Lisboa:
Pactor, p 111.
[3] Diagrama
circular em sectores (também chamado «camembert») é uma representação
gráfica utilizada essencialmente para as variáveis qualitativas. É constituída
por um círculo dividido em sectores. A superfície de cada sector é proporcional
ao efectivo (ou à frequência) representado (a proporção é constante) [ROSENTAL,
Claude & Camille
FRÉMONTIER-MURPHY (2001); Introdução aos
Métodos Quantitativos em Ciências Humanas e Sociais, Lisboa: Instituto
Piaget, p 35].
[4] Conhecimento
científico: é “(…) o conhecimento racional, sistemático, exacto e
verificável da realidade (…). A indução e a dedução são formas de raciocínio,
de argumentação, que podem ser adoptada tendo em conta o grau de conhecimento
científico já existente [Sousa 2011: 6, 8]. Queremos com isso dizer que, a
construção do conhecimento científico parte do aspecto geral para o específico.
Entretanto, somos de opinião que o estudo da Sociologia deve começar da Sociologia
Geral para a Sociologia Policial e Sociologia do Crime).
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