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quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Estudo de avaliação sobre a disciplina de Sociologia Policial ao longo do ano lectivo 2013




Horácio Lembe[1]


Resumo
Este artigo faz referência a noção, âmbito, características e vantagens de um estudo de avaliação de forma a balancear as estratégias implementadas e procura aferir o mérito e as insuficiências da disciplina de Sociologia Policial lecionada no Instituto Superior de Ciências Policiais e Criminais ao longo do ano 2013, com ajuda de um inquérito por questionário auto-administrado submetemos a apreciação dos cadetes a crítica da disciplina. Com efeito, contactamos 60 cadetes e obtivemos uma margem de resposta correspondente a 86,6%, entretanto, foi possível diagnosticar que 50% dos mesmos estudaram Sociologia pela primeira vez, em contrapartida de outros (50%) que já haviam estudado noutros níveis de ensino. 79% Classificam a disciplina de Sociologia Policial como bastante importante e o tema desvios comportamentais obteve mais de ¼ do total de menções (33%). Por outro lado, salientamos que o pano de fundo dos estudos desta natureza é avaliar programas e políticas sócio-educativas com vista a orientar a acção futura.

Palavras-chave
Estudo de avaliação, Sociologia Policial, ano lectivo 2013.

Introdução

Tendo-se implementado a disciplina de Sociologia Policial na grelha curricular do curso de licenciatura em Ciências Policiais e Criminais com o propósito de fortalecer os níveis de conhecimentos teóricos e práticos dos formandos sobre as dinâmicas das sociedades actuais, os contornos e desenvolturas das relações interpessoais e institucionais no contexto polícia e sociedade. Tal acto despertou-nos a pretensão em estudar o contraste desta dinâmica no seio dos cadetes.
A pesquisa em questão baseia-se nas respostas a um inquérito por questionário a propósito aplicado aos cadetes que frequentam o III ano do curso acima referenciado, quer na especialidade de Segurança Pública, bem como na de Investigação Criminal. É nosso objectivo analisar a avaliação que os cadetes fazem a disciplina de Sociologia Policial.
A pertinência deste estudo reside no facto de a disciplina de Sociologia Policial ser nova no contexto das Bases do Sistema de Educação em Angola (Lei n.º 13/01 de 31 de Dezembro), em que o ISCPC é a primeira instituição de ensino a tornar factível este desiderato e que os cadetes que frequentam o III ano terem sido os primeiros beneficiários desta inovação. Por essa razão, achámos por bem submeter à apreciação dos mesmos a crítica da disciplina.
Importa referir que os estudos de avaliação não são novos no mundo da cientificidade e, muitas vezes, são empregues para diagnosticar o desempenho de uma determinada empresa, ou de determinadas marcas e produtos. Também são usados para fazer sondagens sobre as expectativas populares, intenções de voto; grau de aceitação de reformas, de campanhas de vacinação, entre outras.
Erigimos duas hipóteses de relação e direcção por forma a “estabelecer uma relação directa entre dois conceitos quando estes aumentam ou diminuem de tamanho conjuntamente” [Silvestre 2012: 74], primeira: quanto mais pragmáticos forem os temas da Sociologia Policial maior interesse desperta aos cadetes; segunda: o elevado nível de importância da Sociologia Policial reside na utilidade que a mesma tem na vida prática.
Para obtenção dos dados pretendidos, socorremo-nos ao método de investigação quantitativa, sem pôr de parte a técnica de inquérito por questionário auto-administrado que nos permitiu inferir a opinião dos cadetes sobre a disciplina de Sociologia Policial.

1.         Estudo de avaliação

O estudo de avaliação enquadra-se na categoria de planos mistos ou pluri-metodológicos, englobando métodos quantitativos e qualitativos. É mais uma das modalidades de investigação em Ciências Sociais e Humanas que visa avaliar programas, métodos e produtos inovadores com recurso a metodologias variadas e aferir a qualidade das mesmas para orientar a acção futura.
Segundo Carol Weiss:
“A avaliação aplica todas as metodologias da investigação social. Os princípios e métodos que são válidos para outro tipo de investigação, são válidos aqui também. Tudo que sabemos acerca de desenho, medida e análise entra em jogo para planear e levar a cabo um plano de avaliação. O que distingue a investigação avaliativa não é o método ou a matéria de estudo mas o objecto ou finalidade que a motivam: uma tomada de decisão” [1975: 18 apud Coutinho 2011: 319-320].

O estudo de avaliação é comum no âmbito das Ciências da Educação, uma vez que as reformas no sector educativo têm sido uma constante no mundo moderno, e, a aplicação deste tipo de estudo visa melhorar não somente o processo educativo nas suas diferentes fases de implementação (preparação, experimentação, correcção e avaliação global), como também o impacto das inovações pedagógicas (métodos e estratégias de ensino, estruturação das grelhas curriculares e materiais de ensino).
“O que individualiza os estudos de avaliação não é o facto de serem um tipo particular de plano de investigação mas uma modalidade de pesquisa que pode ser aplicada a campos como a educação, a saúde ou a sociedade com o objectivo de tecer juízos de valor e/ou tomar decisões sobre a continuidade de estratégias implementadas” [Coutinho 2011: 321]

As principais características de um estudo de avaliação na visão de Clara Pereira Coutinho [2011: 321] são:

-      Modalidade de investigação aplicada, que se destina ao uso por oposição à investigação fundamental ou básica preocupada com aumentar o corpo dos conhecimentos existentes; 
-      Comparar o que é com o que deveria ser, ou seja, os resultados obtidos com os objectivos/metas definidas à partida; 
-      Visar a fundamentação de uma tomada de decisão acerca do que avalia: aprovar, rejeitar, modificar.

Um estudo de avaliação apresenta as seguintes vantagens: aborda problemas práticos, culmina na acção, faz juízo de mérito e valor, resolve problemas particulares sem buscar generalizações; não é disciplinar, o investigador participa em todo o processo de avaliação [Coutinho 2011: 321].

1.1.        Método quantitativo

Tendo em conta o tema, o objectivo, as hipóteses da pesquisa, os recursos humanos e financeiros e o tempo disponível, fizemos o uso do método de investigação quantitativa, que tem como objectivo a identificação e apresentação de dados e indicadores observáveis. “Na investigação quantitativa, o investigador procura medir os fenómenos, lidando fundamentalmente com conceitos e variáveis (…). O investigador parte de uma construção teórica e de conceitos para desenvolver medidas que lhe permitam a observação empírica” [Silvestre 2012: 74], ou seja, o processo inicia-se com os conceitos e termina-se com indicadores específicos e concretos.

1.1.1.   Inquérito por questionário auto-administrado

            De formas a procedermos com eficácia à recolha de dados, utilizámos a técnica de inquérito por questionário auto-administrado. O inquérito por questionário é uma técnica de pesquisa pertencente ao método quantitativo “formado por um conjunto estruturado de perguntas, previamente definidas na sua ordem e conteúdo e inscritas num formulário (…) e que pretende obter dados com menos profundidade” [Silvestre 2012: 159] do que obteria com recurso à entrevista, de forma extensiva, permitindo abranger um número significativo de sujeitos distribuídos num espaço geográfico grande e/ou disperso e que sejam passíveis de serem comparados.
As vantagens do inquérito por questionário auto-administrado residem, primeiro, no facto de este ser aplicado na presença do inquiridor, que entrega e recolhe os inquéritos e faz supervisão do preenchimento; segundo, o sujeito pode responder ao seu ritmo e pode responder em condições de privacidade, permitindo-lhe assim, maior abertura para responder às questões de natureza sensível; terceiro, decorre numa sensação de maior confiança em relação à garantia de anonimato; quarto, está ligado ao facto de o sujeito poder responder ao inquérito num ambiente familiar e que entende como mais confortável [Silvestre 2012: 161].

1.2.        Ficha técnica dos inquiridos

No presente estudo, inerente à avaliação sobre a disciplina de Sociologia Policial, chamamos atenção para o facto de não falarmos de pessoas, mas da disciplina de Sociologia Policial leccionada no ISCPC. Em momento algum falou-se (e falar-se-á) em professores de Sociologia Policial.
Queremos também chamar atenção para o facto de os resultados aqui apresentados não serem generalizados para os cadetes do ISCPC, ou para os cadetes que frequentam o III ano.
Partindo do princípio que “(…) investigar não é fazer com que os dados recolhidos vão ao encontro das expectativas iniciais do investigador, mas sim, relatar os dados resultantes da investigação”[2], então, os dados que se apresentam dizem respeito unicamente ao grupo de inquiridos, constituindo a sua opinião global, ou seja, ao invés de o autor do estudo apresentar aqui a sua própria opinião, preferiu apresentar opiniões avaliativas e abrangentes dos 52 cadetes que aceitaram emiti-las, a quem, desde já, endereçamos o nosso agradecimento.
O número de cadetes contactados foi de 60, dos quais 6 inquéritos foram invalidados por terem sido mal preenchidos, 2 foram extraviados no momento em que aplicávamos o inquérito, ficando assim 52 válidos, preenchidos de acordo com as explicações dadas a priori.
Os inquéritos foram aplicados na quinta-feira, 5 de Junho de 2014, período da tarde, nas salas 1 e 2 do ISCPC. Há que ter em atenção que não trabalhámos somente com os cadetes que estudam nas referidas salas, pelo contrário, as salas 1 e 2 constituem os espaços geográficos disponibilizados para o efeito.
O inquérito decorreu de forma amena, teve a duração de 15 minutos. Os inquiridos reagiram de forma positiva e manifestaram-se bastante interessados.
Os cadetes inquiridos são todos de nacionalidade angolana e estudantes do III ano no ISCPC, frequentam o curso de licenciatura em Ciências Policiais e Criminais (a especialidade de Segurança Pública com 65,4% e a especialidade de Investigação Criminal com 34,6%). A margem de resposta dos cadetes contactados é de 86,6%. Os inquiridos são maioritariamente do sexo masculino (84,6% contra 15,4% do sexo feminino) e têm idades compreendidas entre 23 e 32 anos (média da idade é de 26,2 anos, mediana e moda 26 anos com desaseis frequências registadas). No que diz respeito aos postos e distintivos da Polícia Nacional (hierarquia), averiguou-se que 96,1% pertencem à classe de Agentes e 3,9% à classe de Subchefes.

2.         Avaliação sobre a disciplina de Sociologia Policial

De forma a caracterizar a avaliação que os cadetes do ISCPC fazem à disciplina de Sociologia Policial, impera-nos evidenciar que as representações gráficas que se seguem e em formato de diagramas circulares em sectores[3], foram criadas tendo em conta as respostas dos inquiridos.

2.1. Estudo da Sociologia antes de os cadetes ingressarem no ISCPC

            Considerando a preocupação que os cadetes apresentaram no início das aulas por terem de enfrentar mais um desafio académico, o de estudar a disciplina de Sociologia Policial, numa altura em que alguns se manifestaram surpresos por nunca terem estudado Sociologia noutros níveis de ensino, portanto, achámos pertinente começar o estudo de avaliação apresentando estatisticamente dados fiáveis sobre o número de inquiridos que já haviam estudado Sociologia noutros níveis antes de ingressarem no ISCPC e que, se calhar, se familiarizam mais facilmente com os conteúdos ministrados.
            O gráfico 1 demonstra que metade dos inquiridos (50%) estudou Sociologia noutros níveis de ensino antes de ingressar no ISCPC, ao passo que outra metade estudou pela primeira vez, constituindo novidade no perfil de formação dos mesmos. Portanto, compreendemos o porquê de muitos cadetes ficarem inquietos e curiosos quando nos apresentámos pela primeira vez à sala de aula – numa altura em que não haviam ainda recebido o programa da disciplina e nem sequer tinham noção dos temas a serem ministrados no decorrer do semestre. O sexo ajuda-nos a diferenciar melhor o estudo da Sociologia antes de os inquiridos ingressarem no ISCPC: 44,2% dos homens já estudaram Sociologia em outros níveis contra 40,4% que estudaram pela primeira vez. Já no seio das mulheres 9,6% estudaram pela primeira vez contra 5,8% que estudaram em outros níveis de ensino.

Gráfico 1 – Inquiridos segundo o estudo da Sociologia antes de ingressarem no ISCPC
Fonte: Inquérito por questionário auto-administrado, por 52 pessoas
No seio do grupo dos inquiridos que tiveram a oportunidade de estudar Sociologia noutros níveis de ensino, um facto pertinente revelado no gráfico 2 chama-nos atenção, antes de os inquiridos ingressarem no ISCPC a fim de frequentar o curso de licenciatura de Ciências Policiais e Criminais, 33% dos mesmos já haviam estudado Sociologia no ensino secundário contra 17% que haviam estudado no ensino superior quando se encontravam a fazer outras formações alheias às feitas no ISCPC. Conforme já mencionámos no Gráfico anterior, outra metade (50%) estudou pela primeira vez na instituição em questão.

Gráfico 2 – Inquiridos segundo os níveis de ensino em que estudaram Sociologia
 
Fonte: Inquérito por questionário auto-administrado, por 52 pessoas
            A primeira vista, esses dados nos demonstram a necessidade de se implementar a disciplina de Sociologia Geral na grelha curricular do curso pelo elevado número de cadetes que estudaram Sociologia pela primeira vez e somente no ISCPC, convindo a fortalecer não só os níveis de conhecimento destes, mas para melhor perceberem algumas complexidades técnicas não só de âmbito específico, como também geral.

2.2. Receptividade da disciplina de Sociologia Policial

            Independentemente de metade dos cadetes terem sido privilegiados noutros níveis de ensino em que tiveram a oportunidade de estudar Sociologia antes de ingressarem no ISCPC, interessou-nos apurar os níveis de recepção que os mesmos tiveram face à disciplina de Sociologia Policial, por se tratar de uma inovação na instituição.
 O gráfico 3 demonstra claramente que em termos de receptividade, os inquiridos declararam que gostam da disciplina de Sociologia Policial, mesmo havendo a possibilidade de alguns se absterem de responder à questão formulada, unanimemente declararam que gostam, subjectivamente aprovaram de bom grado a sua implementação na grelha curricular do curso. Sendo esta avaliação bastante positiva (e até certo ponto inesperada), procurámos também averiguar os níveis de avaliação sobre a disciplina em questão por parte destes.

Gráfico 3 – Inquiridos segundo o gosto que manifestaram pela disciplina de Sociologia Policial
 

Fonte: Inquérito por questionário auto-administrado, por 52 pessoas
            Para possibilitar a análise dos resultados obtidos nas respostas sobre a forma como os inquiridos avaliam a disciplina de Sociologia Policial administrada durante o ano lectivo 2013, foi construído um índice de avaliação com os seguintes valores:
¾    Valor «+2» - avaliação excelente;
¾    Valor «+1» - avaliação boa;
¾    Valor «0» - avaliação razoável;
¾    Valor «-1» - avaliação ;
¾    Valor «-2» - avaliação péssima.
Considerando os 54% dos inquiridos que avaliam de forma excelente a disciplina de Sociologia Policial (não perdendo de vista o gosto que os mesmos manifestaram no gráfico anterior); o gráfico 4 demonstra-nos que a avaliação a seguir, corresponde a 38% que avaliam como boa, 8% razoável, porém, não se registou nenhuma avaliação aos níveis de , péssima ou sem opinião.

Gráfico 4 – Inquiridos segundo à avaliação da disciplina de Sociologia Policial
Fonte: Inquérito por questionário auto-administrado, por 52 pessoas
Além da avaliação que os inquiridos fazem à disciplina de Sociologia Policial, na questão a seguir, procurámos ser mais específicos e contundentes no sentido de ter uma visão geral sobre o nível de importância que os mesmos a atribuem a disciplina em questão. Neste caso, foi possível constatar (gráfico 5) que mais de ¾ dos inquiridos (79%) classificam a disciplina de Sociologia Policial com bastante importância, seguido de 17% que classificam com importância, 4% relativa importância, no entanto, não se registou nenhuma classificação aos níveis de pouca importância, sem importância ou sem opinião.

Gráfico 5 – Inquiridos segundo o nível de importância atribuída a disciplina de Sociologia Policial
Fonte: Inquérito por questionário auto-administrado, por 52 pessoas
De um modo geral, constata-se que durante o tempo lectivo, os inquiridos puderam fazer uma avaliação crítica aos conteúdos ministrados nas aulas e estabelecer a simbiose entre os conhecimentos teóricos e a utilidade prática à luz da nossa realidade socioeconómica e cultural. A esse respeito, constata-se no gráfico 6 que 100% dos inquiridos declararam que a disciplina de Sociologia Policial tem utilidade na vida prática. Importa lembrar que, esta unanimidade não se reflecte somente na disciplina em si como também num conjunto de elementos que o formaliza: implementação da disciplina, estruturação do programa curricular, adequação às necessidades temporais, axiologia e praxis dos temas ministrados.

Gráfico 6 – Inquiridos segundo a utilidade que a disciplina de Sociologia Policial tem na vida prática
 
Fonte: Inquérito por questionário auto-administrado, por 52 pessoas
           
2.3. Temas de Sociologia Policial e seus desafios

            Ciente dos desafios académicos que a disciplina de Sociologia Policial remete ao contexto angolano, sobretudo, pela necessidade em se estabelecer dinâmicas construtivistas e necessárias aos novos tempos, definir prioridades investigativas e tendências de racionalidade endógena a fim de se criar rupturas epistemológicas à prováveis dogmas de imutabilidade e trazer a discussão novas tendências paradigmáticas, neste ponto, procuramos avaliar a apreciação crítica dos cadetes relativamente aos temas de Sociologia Policial e prover possíveis desafios que visam fortalecer o ensino da mesma.
O gráfico 7 ilustra a forma como os inquiridos classificam os temas de Sociologia Policial administrados durante o ano 2013, especificamente a este assunto: 48% dos respondentes classificam como bastante pragmáticos, seguindo-se 46% com relativamente pragmáticos, 6% com pouco pragmáticos, ao passo que as variáveis não pragmáticos e sem opinião não registaram nenhum tipo de observação.

Gráfico 7 – Inquiridos segundo a classificação dos temas de Sociologia Policial
 
Fonte: Inquérito por questionário auto-administrado, por 52 pessoas
O gráfico 8 apresenta-nos o número relativo total dos temas que na perspectiva dos inquiridos deveriam ser mais estudados tendo em conta o actual momento que se vive no contexto angolano. Nota-se aí que, com mais de ¼ do total de menções, temos o tema desvios comportamentais (33%), logo seguido pelos temas prevenção e resolução de conflitos, com apenas um quarto do total de menções (25%) e violência nas sociedades actuais com 21%.
Os demais temas encontram-se a grande distância desses três. Também em relação ao número de menções, surgem numa segunda linha, designadamente: políticas públicas de segurança com 9%, geografias da criminalidade com 6%, criminalidade e comunicação social com 4%, direitos humanos e democracia com 2%. Já o tema Estado angolano e pluralismo jurídico não registou sequer qualquer menção acerca. 

Gráfico 8 – Inquiridos segundo os temas de Sociologia Policial que deveriam ser mais estudados tendo em conta a realidade nacional
 
Fonte: Inquérito por questionário auto-administrado, por 52 pessoas
             Considerando o elevado número de inquiridos que nunca tinham estudado Sociologia antes de ingressarem no ISCPC (conforme ilustram os gráficos 1 e 2), nessa pesquisa, questionámos sobre a necessidade de se implementar a disciplina de Sociologia Geral antes da Sociologia Policial (como disciplina de precedência), visto que metade destes (50%) nunca tinha estudado Sociologia noutros níveis de ensino e consequentemente, depararam-se logo com a Sociologia Policial que é específica, antes ou sem ter estudado Sociologia Geral à luz das precedências lógicas da construção do “conhecimento científico”[4].
Tal como se verifica no gráfico 9, mais de ¾ (83%) dos respondentes são contra 17% que defendem que não há necessidade de se implementar a disciplina de Sociologia Geral antes da de Sociologia Policial, no entanto, nenhum inquirido se absteve de responder à questão acima formulada.

Gráfico 9 – Inquiridos segundo a necessidade de se implementar a disciplina de Sociologia Geral antes da de Sociologia Policial
Fonte: Inquérito por questionário auto-administrado, por 52 pessoas
            Tendo em atenção que o curso de licenciatura em Ciências Policiais e Criminais ramifica-se em duas especialidades distintas a partir do III ano (Segurança Pública e Investigação Criminal) e atendendo ao facto de a estruturação do programa de Sociologia Policial aglutinar não só os temas específicos como também os da Sociologia Criminal, então, indagámos aos inquiridos sobre a necessidade de se discernir os temas em questão na intenção de se implementar, futuramente, a disciplina de Sociologia Criminal, porque ambas possuem diferentes objectos, métodos e teorias de estudo.
Relativamente ao assunto acima exposto e em conformidade com o gráfico 10, 77% dos inquiridos defendem a necessidade de os discernir, 23% discorda, contudo, 2% dos inquiridos abstêm-se em participar da discussão sobre esta possibilidade.

Gráfico 10 – Inquiridos segundo a necessidade de se discernir a disciplina de Sociologia Policial da Sociologia Criminal
Fonte: Inquérito por questionário auto-administrado, por 52 pessoas
           
3.         Considerações finais

            O estudo de avaliação é uma modalidade de investigação contínua e adequada para se estudar o processo de implementação ou o impacto de inovações pedagógicas como: métodos, estratégias de ensino e aprendizagem, matérias curriculares ou novos programas disciplinares com vista a resolver problemas práticos e particulares sem buscar generalizações.
            A necessidade de aferir não só o mérito de um determinado produto como também a de identificar insuficiências que retiram a sua qualidade ou impossibilitam a plena satisfação dos sujeitos envolvidos motivaram-nos a avaliar o desempenho da disciplina de Sociologia Policial ao longo do ano lectivo de 2013. As ideias inerentes à concepção do presente estudo de avaliação foram concebidas na segunda quinzena de Maio de 2014. Foram inquiridos os cadetes que frequentam o III ano nas especialidades de Segurança Pública e Investigação Criminal (pertencentes ao curso de licenciatura em Ciências Policiais e Criminais) com a idade a partir dos 23 anos, tendo o número de inquérito sido fixados em 60, logo, a margem de resposta obtida corresponde a 86,6%.
            Uma das conclusões a que a pesquisa nos permitiu chegar dá conta que o elevado nível de importância atribuída à disciplina de Sociologia Policial reside na utilidade que a mesma tem na vida prática dos cadetes. Porque ao diagnosticarmos a receptividade da disciplina no seio dos cadetes, constatámos que unanimemente (100%) gostam da disciplina e vêem nela utilidade prática (articulada entre o conhecimento teórico e a realidade nela subjacente). Neste âmbito ainda, os cadetes avaliam a disciplina da seguinte forma: 54% consideram-na excelente, 38% boa e 8% razoável, sobre o nível de importância 79% avaliam-na como disciplina de bastante importância, 17% com importância e 4% com relativa importância. Este quadro analítico demonstra que a apreciação dos cadetes quanto a implementação da disciplina de Sociologia Policial na grelha curricular do curso é aplaudida de forma positiva.
            Uma outra conclusão pertinente dá conta que quanto mais pragmáticos forem os temas da Sociologia Policial maior interesse desperta aos cadetes, porque dos temas administrados durante o ano lectivo transacto averiguou-se que: desvios comportamentais (33%), prevenção e resolução de conflito (25%) e violência nas sociedades actuais (21%) são os temas que maior interesse despertaram aos cadetes e que os mesmos acham que devem ainda ser mais aprofundados, considerando a actual realidade socioeconómica e cultural que se vive no país.
Em segundo lugar, surgem outros temas como: políticas públicas de segurança (9%), geografias da criminalidade (6%), criminalidade e comunicação social (4%) e direitos humanos e democracia com 2%.
Tendo em conta o pragmatismo que os mesmos atribuem aos temas já transmitidos, dá-se conta que 48% dos temas são avaliados como: bastante pragmáticos, 46% relativamente pragmáticos e 6% pouco pragmáticos. Esta relação de conceitos entre os temas de maior interesse e o tipo de avaliação fornecem-nos novos horizontes sobre estudos a serem desenvolvidos futuramente, no âmbito da Sociologia Policial e relacionados ao caso angolano propriamente dito.
O facto de 50% dos inquiridos ter estudado pela primeira vez a disciplina de Sociologia Policial sem antes estudar a Sociologia Geral chama-nos atenção para a necessidade de se colmatar esta lacuna que, de certo modo, além de rechear o perfil de formação dos mesmos, também irá fornecer outras ferramentas que melhor ajudam a compreender as dinâmicas estruturais das sociedades e a descortinar fenómenos comportamentais complexos.
Como vimos, mais de ¾ dos inquiridos (83%) são a favor da implementação da disciplina de Sociologia Geral, ou seja, quer os 50% que estudaram pela primeira vez como a maioria dos que já haviam estudado noutros níveis de ensino são a favor desta implementação, subtraindo apenas 17% que não vêem tal necessidade. Além disto, 75% julgam necessário discernir os temas da Sociologia Policial com os da Sociologia Criminal pelo facto de o curso de licenciatura em Ciências Policiais e Criminais ramificar-se nestas duas vertentes e que sociologicamente constituem diferentes objectos de estudo.
            Feita a análise sobre a avaliação que os cadetes fazem à disciplina de Sociologia Policial somos de opinião que estudos desta natureza não terminem por aqui, para que possamos, futuramente, fazer estudos comparativos de dois ou três anos lectivos subsequentes a fim de balancear as estratégias implementadas.
           
Referências bibliográficas

COUTINHO, Clara Pereira (2011); Metodologia para Investigação em Ciências Sociais e Humanas: teoria e prática, Coimbra: Edições Almedina, S. A.

DIÁRIO da República (31 de Dezembro de 2001); Lei n.º 13/01: De Bases do Sistema de Educação, I Série, n.º 65, Luanda: Imprensa Nacional – U.E.E.

SILVESTRE, Hugo Consciência (Coord) (2012); Metodologia para Investigação Social, Lisboa: Escolar Editora.

Luanda, Junho de 2014.








INQUÉRITO POR QUESTIONÁRIO
Objectivo: Avaliar a estado de opinião dos cadetes sobre a disciplina de Sociologia Policial;
Grupo alvo: Cadetes que frequentam o IIIº ano no ISCPC/PN.
 




1.       Sexo:
 Masculino 
Feminino
  
2.       Idade: __________________________________

3.       Nacionalidade:___________________________

4.       Que curso frequenta: _________________________
  
5. Classe policial que se enquadra:
Classe de Agentes
Classe de Subchefes
 Classe de Of. Subalternos
 Classe de Of. Superiores

6.       Já alguma vez estudou Sociologia em outros níveis de ensino?
 Sim, já estudei
 Nunca estudei
 É a primeira vez

6.1.     Se respondeu “Sim, já estudei” na questão 6, a que nível se refere? Se respondeu “Nunca estudei” ou “É a primeira vez” na questão 6, então responda “Sem opinião”
 Secundário
 Superior
 Sem opinião

7.       Gostou de ter estudado a disciplina de Sociologia Policial?
 Sim, gostei
 Não gostei
 Sem opinião
 
8.       Que avaliação faz da disciplina de Sociologia Policial?
  Excelente   
Boa
Razoável
Péssima

9.       Em que nível de importância enquadras a disciplina de Sociologia Policial?
 Bastante importância
Com importância
 Ralativa importância
 Pouca importância
 Sem importância
 Sem opinião

 10.    Achas que a disciplina de Sociologia Policial tem utilidade na vida prática?
 Sim, tem utilidade
 Não tem utilidade
 Sem opinião

11.    A disciplina de Sociologia Policial é leccionada a luz da realidade socioeconómica e cultural de Angola?
 Sim                       
 Parcialmente
 Não                       
 Sem opinião

12.    Como classificas os temas da Sociologia Policial?
 Bastante pragmáticos
 Relativamente pragmáticos
 Pouco pragmáticos
 Não pragmáticos
 Sem opinião

13.    Quais os temas da Sociologia Policial que deveriam ser mais estudados tendo em conta a realidade nacional?
 Desvios comportamentais
 Violência nas sociedades actuais
 Políticas públicas de segurança
 Prevenção e resolução de conflitos
 Criminalidade e comunicação social
 Direitos Humanos e democracia
 Pluralismo jurídico e Estado de Direito
 Geografias da criminalidade

14.    Há ou não a necessidade de se implementar a disciplina de Sociologia Geral antes da de Sociologia Policial?
 Há, sim
Não há necessidade
 Sem opinião

15.    Há ou não a necessidade de discernir a disciplina de Sociologia Policial da Sociologia Criminal?
 Há, sim
 Não há necessidade
 Sem opinião


[1]  Sociólogo, licenciado em ensino da Sociologia pelo Instituto Superior de Ciências da Educação de Luanda, pós-graduando em Investigação e Intervenção Social pela Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto. Tem como área de investigação a Sociologia da Educação. 
[2] SOUSA, Maria José & Cristina Sales BAPTISTA (2011); Como fazer investigações, dissertações, teses e relatórios, Lisboa: Pactor, p 111.
[3] Diagrama circular em sectores (também chamado «camembert») é uma representação gráfica utilizada essencialmente para as variáveis qualitativas. É constituída por um círculo dividido em sectores. A superfície de cada sector é proporcional ao efectivo (ou à frequência) representado (a proporção é constante) [ROSENTAL, Claude & Camille FRÉMONTIER-MURPHY (2001); Introdução aos Métodos Quantitativos em Ciências Humanas e Sociais, Lisboa: Instituto Piaget, p 35].
[4] Conhecimento científico: é “(…) o conhecimento racional, sistemático, exacto e verificável da realidade (…). A indução e a dedução são formas de raciocínio, de argumentação, que podem ser adoptada tendo em conta o grau de conhecimento científico já existente [Sousa 2011: 6, 8]. Queremos com isso dizer que, a construção do conhecimento científico parte do aspecto geral para o específico. Entretanto, somos de opinião que o estudo da Sociologia deve começar da Sociologia Geral para a Sociologia Policial e Sociologia do Crime).

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